Central Tejo
O que se passou na passada quarta-feira passada no Museu da Electricidade estremeceu muito boa gente deste nosso feliz protectorado. Guinchos, grunhos, gritos de repulsa com as cerca de 1000 pessoas que se deslocaram para o lançamento do livro de José Sócrates - ou como nos chamou o Vasco Pulido Valente, "assistência de "notáveis", seleccionados por convite." (confesso que sempre quis ser um notável, muitó'brigado Vasco). Entre os notáveis que estiveram na presença da criatura satânica estavam Noronha Nascimento e Pinto Monteiro. Ora, há por ai uns quantos bons seres pensantes que acham que isso é que já não pode ser. Que o senhor ex-juiz do Supremo Tribunal de Justiça e o senhor ex-Procurador-Geral da República, ambos já aposentados, não podem ir às apresentações de livros que bem lhes apetecer, que têm que se resguardar, ficar enclausurados nas suas residências, porque senão é uma pouca vergonha. Sim, cidadãos livres de constrangimentos profissionais têm que abster-se de ter participação cívica (ou hábitos de leitura públicos, aparentemente) porque há senhorias que crêem que assim é que é, que há que manter as aparências, que a mulher de César e tal, eles lá sabem. "Ai não, não posso ir lá, ia parecer mal, é melhor deixar-me estar aqui quietinho e caladinho". Adoro este tipo de filosofia na direita nacional. A do respeitinho, a do caladinho para manter as aparências, a direita da etiqueta e dos pacotinhos de chá. Oh minhas gentis excelências, ganhem tino, era só o que mais faltava que agora dois cidadãos livres de compromissos públicos não pudessem ir a aonde bem entendessem. Ou só aonde vossas excelentíssimas personagens o determinassem. Já fizeram uma listinha de locais proibidos? De sítios pouco recomendáveis? E multas para quando essa gente decide ir na mesma? Não pode ser. Há que lhes limitar a cidadania. Limitar-lhes o pensamento. Pois aparentemente o ilustre pessoal que defende estas coisas já o tem bem limitado.