O trilema da gestão política da crise
No dia em que se celebra a República, quase uma semana depois da maior derrota autárquica que um partido do "arco da governação" alguma vez teve em democracia e a pouco mais de uma semana da apresentação da proposta de Orçamento de Estado para 2014, vale a pena alertar para o que considero, «o trilema da gestão política da crise» para o qual o XIX Governo Constitucional deveria olhar com interesse e seriedade. Este governo e os seus seguidores não compreenderam que, simplesmente, não é possível ter, ao mesmo tempo, austeridade, paz social e democracia. Pode-se ter dois fatores, mas não os três. Por muito criticável ou defensável que seja a política económica do governo, é a má gestão destes fatores que está a fazer toda a diferença política e social. Austeridade e paz social, só se alcançam à custa da supressão - se necessário, com recurso a violência - da opinião, da manifestação popular e do voto e, claro, com uma intromissão - mais ou menos clara - do poder executivo no poder judicial. Austeridade e democracia podem existir simultaneamente, mas para isso este governo teria que estar disposto a aceitar o descontentamento social e a respeitar o sufrágio eleitoral. O último binómio - paz social e democracia - é o tal pelo qual nos devemos bater e procurar reerguer. Nos dias que correm, dirão alguns, que é uma espécie de neojacobinismo republicano. Que assim seja.
(Bom 5 de Outubro.)