Olhe, desculpe lá
Cavaco Silva disse hoje ter a ideia de que os parceiros dos portugueses preferem que, se o país "se comportar bem", o problema "seja resolvido no quadro do mecanismo europeu de estabilidade, porque os resgates têm sempre de ir aos parlamentos nacionais, discussões que não são fáceis".
Deixa ver se percebi: o Presidente da República Portuguesa diz que após falar com 'parceiros dos portugueses' (?) ficou com a ideia que para estes, bom bom, era uma nova intervenção externa não ter que passar pelos parlamentos, pelos representantes eleitos da população, pelo poder legislativo. Pela democracia, que é uma chata, complexa, trabalhosa, custosa, fastidiosa, afanosa e fatigante. Os "resgates" têm que ir aos parlamentos, os deputados discutem visões e opiniões, planos e estratégias, responsabilidades e alternativas e, no fim, (vejam só a maçante trabalheira) ainda se põem a votar. É um aborrecimento e uma complicação, dizem os nossos parceiros. Era melhor que dispensássemos isso, passássemos à frente, se está aprovado, está aprovado, ala que se faz tarde. Os parceiros têm pressa e não estão para perder tempo com mariquices democráticas. E o Presidente da República, outrora eleito para esse mesmo parlamento, ouviu-os. E, gostaria de supor eu, mandou-os bugiar após tal sugestão facilitadora. É que se não mandou, ele que nos desampare a loja, que aqui os portugueses, aqueles tipos a quem os parceiros querem facilitar a vida, mereciam ter alguém que defendesse o seu regime democrático perante parceiros tão bestiais como estes que nos calharam na rifa. Alguém que lhes explicasse que esse raciocínio do 'é melhor não ser discutido, causa muita confusão' já deu tubérculos por aqui. Que duraram quase 40 anos. E que estamos a ficar sem paciência para a ignorância. Era só isto, se não for muito incómodo.