Saltar para: Post [1], Pesquisa e Arquivos [2]

365 forte

Sem antídoto conhecido.

Sem antídoto conhecido.

22
Set13

Os portugueses sabem isso

David Crisóstomo

"Aqueles que pensavam que o CDS-PP e o PSD não seriam capazes de levar até ao fim este mandato de Governo, que é um mandato do interesse nacional, hoje sabem que não existe nenhuma maneira de estes dois partidos não cumprirem o seu mandato e não levarem o Governo até ao fim. Os portugueses sabem isso", afirmou Pedro Passos Coelho.


Faço parte duma geração que nasceu e confortavelmente cresceu sempre em democracia. Sempre usufruí da escola pública e do serviço nacional de saúde, sempre fui e me senti europeu, sempre olhei para a ausência de um Estado de Direito como algo para sempre ultrapassado. Sempre foi assim. E, talvez inocentemente, muitos de nós sempre assim pensámos. Que tudo isso era normal. O país e o seu regime politico tinham as suas falhas, mas estas, com o tempo, iam sendo corrigidas e colmatadas. Para sempre assim seria. Era o curso natural. 

 

Hoje li que o Primeiro-Ministro da República Portuguesa, o mesmo que já produziu inúmeras declarações dignas do mais básico populista, afirmou que era impossível que o seu governo caísse. Afirmou que não existiria nenhuma maneira de o seu governo, que classifica como sendo de 'interesse nacional', não cumprir o seu mandato, de não ir "até ao fim".  Li e espantei-me. Podemos achar que, dada a proveniência da alarvidade, tais palavras já não deviam surpreender ninguém, deviam ser encaradas como 'expectáveis'. Discordo. Ao contrário do que certas eruditas figuras têm vindo a declarar, os tempos que vivemos não são assim tão excepcionais. Não são tão excepcionais para que um Primeiro-Ministro eleito da República Portuguesa diga, do alto duma tribuna, que o seu governo é imparável e inabalável. Para que um Primeiro-Ministro eleito da República Portuguesa passe um atestado de impotência à Presidência da República e à Assembleia da República, declarando que estas não possuem a capacidade de demitir o seu governo. Para que um Primeiro-Ministro eleito da República Portuguesa faça proclamações totalitárias. Em democracia, um governo pode sempre ser demitido. Sempre. Passos Coelho acha que está acima disso, que por o seu governo ser de 'interesse nacional', o regime nacional pode ser atropelado. Eu conheço regimes nos quais não existe nenhuma maneira de um governo cair. Mas não são democracias. E assusta-me que o Primeiro-Ministro do meu país não saiba, aparentemente, como é que tais regimes foram criados e justificados. Ou pior, que saiba. 


«As circunstâncias são o dilema sempre novo, ante o qual temos de nos decidir. Mas quem decide é o nosso carácter.»
- Ortega y Gasset

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

No twitter

Arquivo

  1. 2024
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  14. 2023
  15. J
  16. F
  17. M
  18. A
  19. M
  20. J
  21. J
  22. A
  23. S
  24. O
  25. N
  26. D
  27. 2022
  28. J
  29. F
  30. M
  31. A
  32. M
  33. J
  34. J
  35. A
  36. S
  37. O
  38. N
  39. D
  40. 2021
  41. J
  42. F
  43. M
  44. A
  45. M
  46. J
  47. J
  48. A
  49. S
  50. O
  51. N
  52. D
  53. 2020
  54. J
  55. F
  56. M
  57. A
  58. M
  59. J
  60. J
  61. A
  62. S
  63. O
  64. N
  65. D
  66. 2019
  67. J
  68. F
  69. M
  70. A
  71. M
  72. J
  73. J
  74. A
  75. S
  76. O
  77. N
  78. D
  79. 2018
  80. J
  81. F
  82. M
  83. A
  84. M
  85. J
  86. J
  87. A
  88. S
  89. O
  90. N
  91. D
  92. 2017
  93. J
  94. F
  95. M
  96. A
  97. M
  98. J
  99. J
  100. A
  101. S
  102. O
  103. N
  104. D
  105. 2016
  106. J
  107. F
  108. M
  109. A
  110. M
  111. J
  112. J
  113. A
  114. S
  115. O
  116. N
  117. D
  118. 2015
  119. J
  120. F
  121. M
  122. A
  123. M
  124. J
  125. J
  126. A
  127. S
  128. O
  129. N
  130. D
  131. 2014
  132. J
  133. F
  134. M
  135. A
  136. M
  137. J
  138. J
  139. A
  140. S
  141. O
  142. N
  143. D
  144. 2013
  145. J
  146. F
  147. M
  148. A
  149. M
  150. J
  151. J
  152. A
  153. S
  154. O
  155. N
  156. D
  157. 2012
  158. J
  159. F
  160. M
  161. A
  162. M
  163. J
  164. J
  165. A
  166. S
  167. O
  168. N
  169. D