Deus nos livre e guarde de eleições
É curioso que no dia em que Nouriel Roubini afirma que Portugal dificilmente escapará a um segundo resgate, algo que já vem a ser alertado há já algum tempo a esta parte, o Primeiro-ministro venha dizer que o país não pode passar por uma crise política que conduza a eleições antecipadas. Precisamente o cenário que se colocou para a queda do anterior governo, antes do final da legislatura então em curso, e eleição do actual executivo. Aliás, leviana tentativa de passar por cima de uma (das várias) crise política que a própria coligação criou após a demissão de Vítor Gaspar e que proporcinou ao país um dos mais lamentáveis episódios da democracia portuguesa, com o beneplácito presidencial.
É já tão indisfarçável o medo de uma nova ida a votos - que inevitavelmente marcará o fim já tardio desta frívola coligação e dos seus volúveis protagonistas -, que as declarações de Poiares Maduro a garantir que o país não vai precisar de um novo empréstimo vestem-se de forma ainda mais ridícula que os trajes de cerimónia da Joana Vasconcelos.
Vende-se, a todo o custo, a imagem que eleições antecipadas seriam uma desgraça para o país, verdadeiro papão de um crescimento fantasma que ninguém vê ou sente, quando ainda não se conhecem as novas medidas de austeridade, reveladas apenas depois das eleições autárquicas, não vá o anúncio estragar a já difícil tarefa de conseguir um bom resultado eleitoral. Seja lá o que considerarem ser um 'bom resultado', que nisto das avaliações pós-eleitorais é raro o partido que declara derrota. Basta lembrar que o único líder que não se mostrou satisfeito com os resultados nas legislativas de 2009 foi precisamente quem as venceu.
Compreende-se e exige-se que o país ganhe estabilidade, mas convenhamos que a actual situação pode ser adjectivada de tudo menos de estável. Se até os magistrados da nação, da sua superioridade intelectual, considera que o povo não sabe votar, Deus nos livre e guarde das eleições. Antecipadas ou outra qualquer.