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365 forte

Sem antídoto conhecido.

Sem antídoto conhecido.

21
Jan15

Eu também não sou a Angelina Jolie mas já vale tudo e mais um par de botas

Teresa

"Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos". Assim o diz o primeiro parágrafo do primeiro artigo da declaração universal dos direitos humanos proclamada pela assembleia geral da ONU. Essa, essa mesmo, essa ONU que trata a Angelina Jolie com umas honrarias com que não me trata a mim e se é por ser mais gira estão bem enganados que eu também sou um bocadinho esperta e às vezes simpática, nós somos iguazinhas, dizem eles e digo eu, portanto é discriminação pura e até o Guterres, que parece que é quase santo, anda todo pimpão com ela ao lado e a mim não me liga nenhuma. E se o Guterres vai com a Jolie  visitar campos de refugiados porque acha que se fosse comigo tinha menos visibilidade relembro-o, e aos senhores da ONU, que estão a discriminar-me só porque sou um bocadinho mais baixa que ela, um pouco, quase nada, mal se nota, se me pusesse em bicos de pés também me iam conseguir ver nas fotografias.

 
E a argumentação ridícula pode ficar por aqui, penso que toda a gente já me percebeu.
 
Eu não sou a Angelina Jolie e o preso 59 do estabelecimento prisional do Linhó também não é José Sócrates. É um ilustre desconhecido que, como ele, nasceu livre e igual em dignidade e direitos mas, temos pena, - eu às vezes tenho, de não ser a Jolie - não é José Sócrates. José Sócrates, como o advogado dele frisou em entrevista à SIC, é um ex primeiro ministro e é um ex primeiro ministro especial, porque se nem todas somos Jolies os ex também não são todos iguais, perguntem lá ao Woody Allen se no meio das outras ex mulheres a Mia Farrow não é uma ex especial.
Se me estais a seguir e se me fiz explicar temos, até aqui, que José Sócrates não é um desconhecido, é um ex primeiro ministro do nosso país, e não é um ex primeiro ministro qualquer -  parecendo-me absolutamente despiciente se tiver de explicar porquê, despiciente e denotador de alguma má fé se a pergunta for feita - mas a tudo isto, que já não é pouco, acresce que é um preso com um regime especial. Sim, exactamente isso, preso com regime especial, tal qual está escrito no Código da Execução das Penas e das Medidas de Segurança e no Regulamento Geral dos Estabelecimentos Prisionais. Já agora, e antes que o Coiso, bendito nome, em mais um brilhante rasgo de jornalismo de investigação descubra que estes dois diplomas foram paridos por Sócrates e o regime especial dos presos preventivos foi lá metido porque na altura já tinha um amigo, que tinha um amigo que lhe soprou que mais de três anos depois iria ser preso e seria avisado pôr um Especial na lei, a mesma especialidade aparece referida nas Regras Penitenciárias Europeias, recomendação feita em 2006 aos ministros dos estados membros e nessa altura Sócrates andava entretido com o Freeport, não era?, tinha pouco tempo para estes tremoços, e não deve ter conseguido pôr lá um outro amigo para lhe fazer este jeitinho.
 
Ora portanto, a lei diz, e quando a lei diz nós ouvimos, que a prisão preventiva, a de Sócrates e a de um 59 qualquer, tem um regime especial e que "A prisão preventiva, em conformidade com o princípio da presunção de inocência, é executada de forma a excluir qualquer restrição da liberdade não estritamente indispensável à realização da finalidade cautelar que determinou a sua aplicação e à manutenção da ordem, segurança e disciplina no estabelecimento prisional". E a lei diz que presos preventivos têm algumas regalias que os outros presos não têm, visitas todos os dias, por exemplo, ouviste Coiso?. A lei, a que diz, diz muitas coisas, mas não diz que cachecóis do Benfica são proibidos e muito menos edredons, sim, a lei diz que a roupa de cama é fornecida pelo estabelecimento prisional mas não diz, e se não diz a lei está lixada porque devia dizer se queria mesmo que os presos não tivessem edredons, que para além dessa roupinha básica gentilmente cedida pelo Estado português não podem ter outra a não ser que, e isto a lei não diz mas vai dizendo, haja perigo de a usarem para se enforcarem com ela mas parece-me que no dia em que, até o Coiso, já referi que é um grande nome?, disser que Sócrates se quer enforcar com um edredon um pais inteiro vai rir. Apesar de que, pensando bem, talvez seja um favor que nos faça, umas boas gargalhadas nunca são demais.
E, já agora, a lei, a que vasculhei do cimo ao fundo porque, raios!, aquela história das botas de cano alto andava a moer-me, também não diz que os presos, especiais ou não, Sócrates ou não, ex primeiros ministros ou não, não podem ter botas de cano alto mas eu até gostava que dissesse, esta eu gostava de ver por escrito, assim em letra de forma. Gostava de ver definido cano alto na lei, naquela que é aplicada a todos, quarenta e quatros ou cinquenta e noves, é que há gente de perna curta, portanto cano alto, na lei, seria o que batesse acima da barriga da perna do recluso ou o que tivesse mais de 20 cm? E era qualquer cano alto ou só cano alto com cordões? E se fosse botim com salto de agulha, já podia? E a bota alentejana, pelo meio da perna mas arma quase letal, essas são usadas nas cadeias portuguesas? Sapato de verniz mata baratas nos cantos, com biqueira que tira olhos, são permitidos? A lei fala em calçado, assim só, calçado, o recluso pode ter o seu próprio calçado, mas parece-me que está na altura da Fátima Campos Ferreira chamar Carrie Bradshaw e o director geral dos serviços prisionais para que num Prós e Contras que até eu veria ser, finalmente, discutida a definição dos vários tipos de calçado e as vantagens e desvantagens de serem usados nas cadeias portuguesas.
 
Há uns anos, valentes, explicaram-me que, apesar de tudo, e tudo é o tudo que se sabe, a prisão de Caxias antes de 74 era a que melhores condições tinha para os reclusos e isso aos presos políticos se podia agradecer. Ao contrário do preso comum habitual nessa época eles eram gente informada, reivindicativa, que fazia barulho e se fazia ouvir. Li há uns dias um relato de um deles, de como ele e os companheiros lutaram pelo direito de terem uma festa de Natal privada, só isso, uma festa de Natal, coisa quase tão prosaica como umas botas de cano alto.
Não me lembro de alguma vez ter ouvido discutir a problemática dos edredons e das botas de cano alto e dos cachecóis do Benfica nas prisões, não me lembro de alguma vez se ter discutido tanto na praça pública os direitos dos presos, do 44 ou do 59, direitos simples, direito ao conforto de um edredon, de umas botas de cano alto, de um cachecol, direitos que nem nos parecem direitos de tão irrelevantes que são mas que pelos vistos não são tão básicos assim nas cadeias portuguesas, isto presumindo que Sócrates não tenha um regime especial dentro do regime especial, presumindo..., direitos a que a lei parece que dá direito mas que podem, ou não, estar-lhes vedados por umas regras quaisquer que não conhecemos e a que nós, cidadãos honrados, não precisamos de ter acesso porque é coisa lá deles, dos presos, mas se  estamos agora a discutir esses direitos, simples, prosaicos, ao preso 44 de Évora o devemos e sim, é o devemos, porque discutir direitos, por mais que nos pareçam irrelevantes, de quem quase nunca se consegue fazer ouvir só pode trazer vantagens a quem não tem voz e fazer de nós melhores cidadãos e o 44 de Évora, doa a quem doer, incomode quem incomodar, seja incompreensível para quem não quiser perceber, é uma Angelina Jolie dentro do sistema prisional. E não, ó Coiso, não te baralhes, não tem nada a ver com o dormir com o Brad Pitt, o actor nem era esse, já se te confundem os pensamentos, é normal, Pavlov explica, mas é porque ele apesar de ter nascido igual a todos nós em dignidade e direitos chama-se José Sócrates, foi primeiro ministro do nosso país, não foi um primeiro ministro qualquer e sim, tem um vozeirão que, mesmo calado, se faz ouvir e, tal qual como a outra, basta-lhes estar lá para nós, iguazinhos a eles, diz a ONU, lhes darmos a atenção que não damos a um 59 qualquer ou, vá-se-lá saber porquê, sou só um bocadinho mais baixa que ela, não daríamos a mim, eu própria, num campo de refugiados do Sudão.
 

 

24
Jun14

Nem traz nenhum futuro

David Crisóstomo

António José Seguro resumiu, mais uma vez, a essência do seu pensamento. “Eu não trago nenhum passado de volta" diz o (ainda) meu Secretário-Geral. Não é preciso perder tempo a discorrer sobre o quão constrangedora é toda esta visão sobre a nossa história recente. Não é preciso perder tempo com quem teima em não merecer. A resposta já foi escrita:

 

"Camarada, tens vergonha da aposta na educação? Tens vergonha do investimento na escola pública? Tens vergonha da requalificação de escolas com a Parque Escolar? Tens vergonha da avaliação dos professores? Tens vergonha do inglês no 1º Ciclo? Tens vergonha dos resultados PISA? Dos resultados a matemática? Tens vergonha das aulas de substituição e apoio aos alunos, do alargamento do horário? Tens vergonha do combate aos subsídios a colégios privados? Da escolaridade obrigatória até aos 18 anos? Tens vergonha da redução do abandono escolar, Camarada?

Camarada, tens vergonha da aposta na ciência? Tens vergonha da subida em flecha da investigação? Tens vergonha do apoio aos nossos cientistas, investigadores e académicos? Tens vergonha da aposta nas universidades? Tens vergonha de ver o MIT com o Técnico? Tens vergonha do computador Magalhães nas escolas primárias? Dos 300 milhões de euros que hoje vendem? Tens vergonha do plano tecnológico? Da cobertura de banda larga?  Tens vergonha dos computadores portáteis para estudantes, Camarada?

Camarada, tens vergonha das reformas feitas no estado? Tens vergonha do programa Simplex, da empresa na hora? Da entrega do IRS pela internet? Tens vergonha do Cartão do Cidadão? Do fim dos subsídios vitalícios aos deputados? Da reforma da Segurança Social? Tens vergonha do código contributivo, dos serviços públicos electrónicos? Da redução das pobreza e desigualdades? Tens vergonha do Complemento Solidário para Idosos, Camarada?

Camarada, tens vergonha das medidas na economia? Do défice de 3% antes da depressão? Das medidas contra-cíclicas para a combater? Das linhas de crédito às PME? Do aumento do salário mínimo? Tens vergonha das infraestruturas? Da rede ferroviária? Do projecto TGV apoiado pela UE? Do novo aeroporto? Tens vergonha do crescimento da economia logo em 2010? Tens vergonha do investimento público, Camarada?

Camarada, tens vergonha da aposta na saúde? Tens vergonha do Hospital de Cascais? Do Hospital de Braga, do de Loures, do da Guarda? Tens vergonha do Hospital pediátrico de Coimbra? Do Hospital de Lamego? Tens vergonha da despenalização do aborto? Tens vergonha da rede de cuidados continuados, Camarada?

Camarada, tens vergonha das Novas Oportunidades? Da requalificação da economia e aposta em tecnologia? Tens vergonha das energias renováveis? Do carro eléctrico? Da rede de postos de carregamento? Tens vergonha da fábrica de baterias da Nissan que este governo deitou pela janela fora? Tens vergonha da fábrica da Embraer em Évora? Da nova refinaria da GALP? Tens vergonha do investimento da Portucel que esteve para ir para a Alemanha? Da expansão do Porto de Sines? Tens vergonha do aumento das exportações, Camarada?

Camarada, tens vergonha do anterior governo PS? Tens vergonha do que o teus camaradas de partido fizeram, daquilo por que se bateram? Tens vergonha dos nossos sucessos, dos nossos insucessos, das nossas apostas ganhas e das nossas apostas perdidas? Tens vergonha quando te chamam Socialista, quando te apontam o dedo e te dizem que faliste o país? Tens vergonha da tua própria história? Tens vergonha, camarada?

 

Então vota no António José Seguro."

 

Vega9000

 

19
Mai14

Cartilhas

João Martins

Depois de PSD e CDS, eis que PCP integra a narrativa oficial da Aliança Portugal para estas eleições.

João Ferreira, por momentos, cansou-se da cartilha propalada pelo seu partido e/ou coligação e decidiu adotar a de Melo e Rangel: Eleições europeias? Muito giro, mas não esquecer o Sócrates!

Apesar da direita agradecer, faltou originalidade a João Ferreira. É melhor tentar outra vez.

27
Abr14

A voz asfixiada do cidadão

Nuno Pires

O espaço "A Opinião de José Sócrates", transfigurado por José Rodrigues dos Santos num momento de zaragata televisiva da estação pública, foi o tema do programa "Voz do Cidadão" emitido no passado dia 19 de abril.

 

No final de um programa em que se deu voz a diferentes perspetivas sobre a inusitada (e, a meu ver, desagradável) transfiguração daquele espaço de opinião, o Provedor do Telespectador, Jaime Fernandes, não podia ser mais claro: face à evidência de que um espaço de opinião "pressupõe que o comentador faça as considerações que entende sobre temas da actualidade sem necessitar de contraditório", aquele espaço de opinião "deverá regressar à sua forma original ou, caso contrário, deixa de fazer sentido na televisão pública".

 

Entretanto, ninguém sabe muito bem o que aconteceu. No dia 20 de abril (logo após a emissão do programa do Provedor do Telespectador), a opinião de José Sócrates simplesmente desapareceu da emissão da RTP1. E justificações trôpegas relacionadas com a conquista de um troféu futebolístico naquela data esbarram no facto de já no passado, por questões de programação, este programa ter sido emitido no dia anterior ou no seguinte.

 

Mas o mais bizarro ainda estaria para vir.

 

A RTP disponibiliza um serviço online através do qual qualquer cidadão pode ver ou rever um programa emitido pela estação pública - o RTP Play. E a "Voz do Cidadão" não é exceção. Ou melhor, não é exceção o programa, mas é exceção aquele programa.

 

Como o Miguel Abrantes refere e bem, encontram-se disponíveis no RTP Play as várias emissões do programa "Voz do Cidadão" - as anteriores e a seguinte. Mas é omitida aquela em que se alude à lamentável performance de José Rodrigues dos Santos.

 

Face ao exposto, torna-se difícil não pensar em coisas que se pensava pertencerem já ao passado. A verdade é que, ainda que entretanto venha a surgir uma atabalhoada desculpa para esta omissão, este programa terá sido censurado de um serviço público.

 

Por isso, aqui fica a emissão de 19 de abril do programa "Voz do Cidadão".

 

 

17
Fev14

Alberto Pinto Nogueira e a frivolidade da expressão

David Crisóstomo

O doutor Alberto Pinto Nogueira publicou na sexta-feira um texto no jornal Público. A prosa, intitulada "José Sócrates e a liberdade de expressão", dedica-se a enumerar uns quantos casos em que o senhor procurador-geral adjunto da República crê que servem de exemplo de como a liberdade de expressão dos cidadãos está frequentemente sob ameaça. E face à rejeição unânime por parte dos deputados da 1ª Comissão da Assembleia da República, a Comissão de Assuntos Constitucionais, Direitos, Liberdades e Garantias, da petição que queria limitar o direito de José Sócrates a exprimir a sua opinião na RTP, o magistrado do Ministério Público argumenta que estamos perante uma demonstração de "como como o poder interioriza a liberdade de expressão!", pois a liberdade de expressão "não está sujeita a escrutínio","nem se discute", dado que a "liberdade não é só constitucional" como também "supraconstitucional". Ora, eu revejo-me perfeitamente nestas palavras de Alberto Pinto Nogueira. Creio aliás que a esmagadora do maioria da população portuguesa também se revê. A liberdade de expressão é um direito fundamental de qualquer cidadão e, como tal, não está sujeita a discussão [quanto mais a referendo...].

O problema não está conclusão, mas sim nas premissas, nos exemplos nacionais que Alberto Pinto Nogueira cita ao longo do texto.

 

Primeiro é a história do Capucho. O senhor procurador acha que aquilo foi tudo uma "purga", que o honorável António Capucho, coitadinho, "exemplo", herói da pátria, foi corrido por "divergências politicas". Que aquela cena de ele ter violado o número 4 do artigo 9.º dos estatutos que redigiu, de ter sido cabeça-de-lista de um outro movimento que concorria contra o seu partido, aquele com quem o Dr. António Capucho mantinha um vínculo de militância partidária, toda essa história não demove o senhor magistrado do Ministério Público. Ele está aliás convencido de que a argumentação do Conselho de Jurisdição do PSD é uma "invocação farisaica de cariz burocrático-estatutário". Pois claro, esses estatutos que os militantes aceitam cumprir, que o Tribunal Constitucional aceita, isso é tudo papeis sem importância segundo o senhor jurista. E ainda por cima o António Capucho é "co-fundador" da casa. Então pessoal, os "co-fundadores" não têm mais direitos que os outros militantes? Isto é óbvio pás, toda a gente sabe os partidos devem reger-se por uma lógica de "antiguidade da casa", não cá por mariquices igualitárias. Há militantes de 1ª, os premium, que se podem marimbar nos estatutos e há os outros, os militantes coach, as massas, que têm que ser ordeiras. Faz sentido, é a democracia no seu esplendor.

 

A seguir vem a Assunção Esteves e os manifestantes nas galerias da Assembleia da República. Parece que a Assunção despejou velhinhos. O facto de essas "poucas dezenas de idosos" terem violado regras que previamente tinham acordado cumprir, ou seja, de terem enganado a Assembleia da República não mexe com o doutor Alberto Nogueira Pinto. Parece que a Assunção foi muita injusta porque eles ainda por cima não fizeram barulho, só se levantaram e permaneceram em pé de costas voltadas para os deputados. O argumentário parece ser que só com barulheira é que pode haver punição. "Durante as sessões, o público presente nas galerias deve manter-se em silêncio, sem se manifestar ou aplaudir", relata o site a Assembleia da República. Não se pode manifestar. Não pode querer atenção, não pode querer ser ouvido ou visto - porque simplesmente não tem esse direito. Os 230 senhores e senhoras ali em baixo sentados possuem esse direito, foram mandatados para tal, são os representantes eleitos de toda população portuguesa. Os senhores e senhoras que estão nas galerias não têm mandato para exigir que a sua posição seja considerada, não têm mandato para perturbar os trabalhos dos representantes populares. Um procurado-geral adjunto da República não entender esta evidência é no mínimo desconcertante.

 

Por fim o procurador-geral adjunto da República dedica um parágrafo ao nome que consta no título da prosa. Pois bem, segundo Alberto Pinto Nogueira, o Sócras é um "estrangeirado" [ui, teve o desplante de viver lá fora, foi? traidor!], "autoritário" [mandou tanta gente para a prisão sem mais nem menos, eu lembro-me], que "expande as suas ideias [?] e as que não são suas [ladrão!], diz o que pensa [o descarado] e o que não pensa" [de vez em quando fica possuído? cruzes!], pois "é homem para isso e tanto mais" [credo, e o Alberto não tem medo?], dado que "apregoa os seus êxitos [what? teve êxitos?], numa narrativa verborreica sem fim" [usa palavras complicadas, o que obriga o senhor procurador a ter sempre um dicionário à mão] e "não foi, nem de longe, um respeitador da liberdade nem de expressão nem de outras" [violou-as todos os dias, o pulha, as liberdades de expressão e as outras todas, todinhas, foi um terror]. O Sócrates é um bandalho, basicamente. Um exemplar de "ex-qualquer coisa" pseudo-fascizóide. Porquê? Porque o senhor procurador desta República centenária assim o diz. E prontus, case closed.

 

Apesar deste afecto socrático baseado em sabe lá Deus o quê, Alberto Pinto Nogueira está contra a petição que quer limitar a liberdade de expressão do antigo primeiro-ministro. Como referi ali em cima, acho que a maioria dos portugueses com cérebro concordam com ele neste ponto. A liberdade de expressão é um direito humano, uma conquista civilizacional que nunca pode ser posta em causa. José Sócrates tem tanto direito a emitir a sua opinião na RTP como Alberto Pinto Nogueira tem em escrever a sua no Público. A questão está em saber se este direito fundamental nos dá carta branca para dizermos o que quisermos. Se por a Cidade nos dar esta magnifica possibilidade de nos expressarmos livremente, tal não signifique que não tenhamos que procurar reflectir sobre aquilo que desejamos expressar. Se com o direito à liberdade de expressão não virá associado um dever de procurar usá-lo para enriquecer o debate e não para o reduzir a sentenças diminuidoras e demagógicas. Se para propositadamente proteger o direito à liberdade de expressão, não devamos lutar contra um populismo fácil, redutor do pensamento. Quero acreditar que Alberto Pinto Nogueira não pensou, ou pensou pouco, antes de enviar aquele texto para o Público. Uma causa nobre não nos dá o direito de tudo argumentar, de tudo atacar, sem procurarmos ser justos, sem honestidade intelectual. Os fins não justificam os meios.

"O poder convive pessimamente com a diferença. É tentacular. Persegue os homens livres e promove os lacaios e bajuladores", defende o procurador-geral adjunto. Eu discordo, não é o poder. É a ignorância.

 

28
Dez13

Prepare-se: o pagode socialista continua a ser elogiado por entidades internacionais

Cláudio Carvalho

Desta feita, no estudo "The Missing Entrepreneurs: Policies for Inclusive Entrepreneurship in Europe" (OCDE e Comissão Europeia 2013:226-227) divulgado no passado dia 18, a OCDE e a Comissão Europeia resolveram destacar o programa de apoio ao empreendedorismo e à criação do próprio emprego , criado pela Portaria n.º 985/2009, de 4 de setembro e assinada pelo ex-Secretário de Estado do Emprego e da Formação Profissional e agora vereador da Câmara Municipal de Lisboa Fernando Medina. No referido estudo, constatam-se igualmente a desmistificação do discurso governamental em torno da livre iniciativa (ou empreendedorismo, se preferir), nomeadamente da suposta parca propensão dos portugueses trabalharem no setor privado por conta própria.

Noutro estudo da OCDE (2013:19) mas de dia 19, apresentam-se também boas notícias quanto à emissão de gases do efeito de estufa.

 


Referências
- OCDE (2013). Environment at a Glance 2013: OECD Indicators. OCDE Publishing. Acedido no dia 28 de dezembro de 2013, em http://dx.doi.org/10.1787/9789264185715-en.
- OCDE e Comissão Europeia (2013). The Missing Entrepreneurs: Policies for Inclusive Entrepreneurship in Europe. OCDE Publishing. Acedido no dia 28 de dezembro de 2013, em http://dx.doi.org/10.1787/9789264188167-en.

18
Dez13

É que é mesmo isto

David Crisóstomo

 

"As constituições existem também para prevenir os excessos e para dizer a quem governa quais os limites que deve ter mesmo nos momentos críticos, nos momentos de aflição, nos momentos de ruptura", disse." 

"(...) recordou que é "em particular" nessas situações que se deve "ter consciência" e se devem ter "bem desenhadas as linhas vermelhas", que são intransponíveis." 

"(...) disse que as excepções não existem apenas "num momento de guerra", ou "num momento de catástrofe", mas também "num momento de excepção financeira", como o que se vive na Europa."

"(...) defendeu que, "quando uma democracia pretende reagir a um momento de excepção não respeitando as suas próprias normas", ela não se reconhecerá "a si própria" e fica posta em causa. "É por isso, que todos aqueles que estudam regimes de excepção acham que nós devemos pensar a excepção antes de [esta] acontecer, porque o pânico a aflição, o stress e o medo não são bons conselheiros."

Daqui.

 

16
Dez13

Um fedelho

David Crisóstomo

  

(Isto é embaraçante. É embaraçante observar cidadãos a não compreenderem as posições governamentais que ocupam, a não entenderem [repetidamente] as consequências de serem nomeados para certos cargos públicos.) 

Bruno Maçães, o excelentíssimo Secretário de Estado dos Assuntos Europeus, conhecido como "o alemão" ali para os lados do Egeu por melhor encarnar o germanismo que a chanceler da Germânia, acha que é um tipo com graça. Aqui vemos como este protótipo do lusitano anti-pieguices, tão elogiado por outras mentes do nobre XIX governo (para-)constitucional, partilha com o povo anglófono (parece que não tuita em português, que isso é língua latina, do sul, ou seja, preguiçosa e mandriona) a entrevista que lhe valeu o estóico cognome. Diz que deu polémica lá em Portugal, na sua terrinha. Aparentemente houve uns saloios duns tugas que não gostaram, que ficaram envergonhados com o desempenho dum representante seu. Nada que o abane, pois claro, até fica entretido com as criticas que lhe são dirigidas na imprensa dum outro país da União Europeia. "Oh no!". Oh yes, this is sucess, terá pensado o prodigioso ex-assessor do primeiro-ministro. E, orgasmo dos orgasmos, o [inserir adjectivo insultuoso ou que reflicta uma característica negativa] ex-primeiro-ministro português foi falar da sua pessoa. E este exemplar da gente séria ficou todo contente, foi Natal na casa dele. Há que partilhar com o mundo que a besta lusa responsável por todos os males do mundo, Mr. Sócras, criticou a sua actuação pública, foi todo ballistic com o tópico. Há que partilhar e re-partilhar, que isto é motivo para ligar à mãe ou ao Moreira de Sá. Agora, eu não sei bem como é que cidadãos de países sem Correio da Manhã & Cª terão reagido a isto, se terão percebido o alcance deste acontecimento. Mas isso não importa, Herr Maçães está de peito inchado, praticou uma boa acção (mandou bugiar os gregos que vinham com as ladainhas do "a austeridade não funciona") e foi devidamente recompensado.

Parece o que nível das mentes governamentais é este. "Ai, nem sabem, o Sócrates disse mal de mim, hihihihi". Não podemos dizer que já não suspeitávamos da decadência intelectual.

  

09
Dez13

O «terrível» período socrático e a cultura

Cláudio Carvalho

 

 

 

(Séries estatísticas atualizadas ontem pelo INE)

 

Fontes:

18
Nov13

Mais um exemplo de "festa socialista", só pode

mariana pessoa
«As circunstâncias são o dilema sempre novo, ante o qual temos de nos decidir. Mas quem decide é o nosso carácter.»
- Ortega y Gasset

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  167. O
  168. N
  169. D