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365 forte

Sem antídoto conhecido.

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21
Abr16

O liberal português, essa espécie rara

Sérgio Lavos

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É atribuída a Napoleão Bonaparte a frase: "Não interrompas um adversário quando este está a cometer um erro". Sem querer negar a sabedoria que esta frase encerra, não deixa de ser um interessante exercício ir observando, entre a perplexidade e o escárnio, os erros que a direita vai cometendo. 

E tem sido uma sucessão de asneiras estratégicas, desde que a esquerda se organizou para formar Governo. Paulo Portas percebeu logo a travessia do deserto que se avizinhava e empurrou um "crash test dummy" para a liderança do CDS, alguém que dê o corpo às balas enquanto ele ganha fôlego para uma nova investida ao poder. Passos Coelho, claro, ainda não chegou lá. Por isso passeia-se por aí, ao deus dará, escondendo-se atrás do ridículo pin sem perceber como, fazendo-se de morto, dificilmente voltará a ser primeiro-ministro. É deixá-lo andar.

E continuará a andar, sobretudo enquanto tiver a apoiá-lo por aí uma certa direita radical. Ela anda por aí, na barra lateral direita do Observador (por vezes também no miolo) e em blogues como o Blasfémias e o Insurgente. São os auto-denominados "liberais", numa curiosa derivação semântica da palavra "liberalismo" (pelo menos na acepção tradicional do termo). Este curioso grupo de indivíduos tem uma inteligência acima da média, por isso não se atreve a influenciar o debate público para além da presença nos jornais e nas redes sociais. Sabem que, no dia em que por exemplo formassem um partido e submetessem as suas ideias de "estado mínimo" e da privatização da Educação, da Saúde e da Segurança Social à escolha dos eleitores, passariam por um espectacular vexame (como de resto aconteceu em outros países, como Itália ou Alemanha). Por isso, a sua estratégia passa pela influência da opinião pública, seja financiando um projecto como o Observador, seja através dos referidos blogues ou da presença em colunas de opinião, sobretudo em jornais económicos. Esta estratégia de não dar o corpo às balas já teve resultados, o mais importante dos quais foi a ascensão de Passos Coelho à liderança do PSD, afastando uma social-democrata tradicional como Manuela Ferreira Leite. Claro que o "neoliberalismo" de Passos era tão postiço como agora é o seu amor à social-democracia - Passos é daquela raça de homens forjada no cadinho da JSD, um deslumbrado que aprendeu os fundamentos das doutrinas de Hayek e de Mises nos apontamentos Europa-América, encontrando nesse "liberalismo" de pacotilha apenas uma oportunidade de se distinguir da liderança à qual se opunha e de assim chegar ao poder - com a decisiva ajuda de Marco António Costa, curiosamente um dos símbolos máximos do caciquismo regional, sintoma de um Estado capturado pelos interesses privados contra o qual supostamente estes "liberais" lutam.

Apesar da evidente fragilidade do "liberalismo" de Passos, este continua a ser a esperança desta falange de direita. Não surpreende por isso o aparecimento de textos como este. O ataque ad hominem e o amesquinhamento de uma voz desalinhada dentro do PSD, José Eduardo Martins, é a prova de que Passos continua a ser o homem de mão desta gente. Claro que o excesso de perspicácia desta facção de iluminados não lhes permite ver para além do seu radicalismo (por isso até fazem bem em não constituir o tal partido). Não percebem que a maioria do eleitorado português é ideologicamente de esquerda e esquecem que Passos apenas conseguiu ganhar as eleições de 2011 porque garantiu (de forma mentirosa) ir acabar com a austeridade de José Sócrates. Passos ganhou nesse ano porque prometeu mais Estado Social, sabendo que apenas assim conseguiria chegar ao poder. E apenas perdeu as eleições de Setembro de 2015 (sim, perdeu, ultrapassem lá o trauma) porque, depois de quatro anos a fazer o contrário do que tinha prometido, não podia voltar a ensaiar um discurso social-democrata. 

Pareço estar a interromper um adversário quando este está a cometer um erro crasso, não é? Mas isto é tudo tão divertido, que é muito difícil resistir. Seria tão bom se eles não mudassem, nunca...

2 comentários

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    Salomé 23.04.2016

    Podiam mandá-lo já para o Panteão, sempre fazia menos estragos no país.
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