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365 forte

Sem antídoto conhecido.

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03
Jan16

O candidato das novas "conversas em família"

Sérgio Lavos

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A esquerda portuguesa parece ter relaxado desde que chegou ao poder. Mas tanto "tempo novo" e tanta "recuperação de rendimento" não podem fazer perder de vista o próximo combate: as presidenciais. Há quem julgue que o candidato da direita, Marcelo Rebelo de Sousa, até irá facilitar a governação. Pura ilusão, daquele tipo em que apenas ingénuos ou políticos inexperientes podem cair. Estas presidenciais são tão ou mais importantes do que as duas eleições anteriores, as que deram a vitória a Cavaco e à sua magistratura de ingerência e de facção. 

Os ingénuos dizem, então: Marcelo não é nenhum Cavaco. Podemos acrescentar: pois não, será pior. Pior porque é muito mais imprevisível do que Cavaco. Pior porque ainda tem um ego mais inflado do que Cavaco. E pior porque sabe guardar humores para a melhor ocasião e servir vinganças geladas. A popularidade alimentada pela TV é o combustível certo para uma magistratura de interferência e de confusão.

O homem que há mais de dez anos está ligado ao tubo de alimentação da máquina que "tanto pode vender sabonetes como presidentes" é o que mais próximo temos de um Silvio Berlusconi. É certo que o seu domínio emana de qualidades telegénicas e não empresariais, mas a verdade é que Marcelo teve as suas "conversas em família" com Judite durante tanto tempo que já ninguém se lembra das suas aventuras enquanto candidato à câmara municipal de Lisboa ou do seu breve romance com o irrevogável Portas. Marcelo lidera destacado as sondagens porque aos olhos do povo ele não é político, é o tio Marcelo da televisão. 

E todos os media vão atrás, seguem a onda lançada pela TVI. O espaço mediático que Marcelo ocupa corresponderá certamente a mais de cinquenta por cento do tempo total dedicado aos candidatos. As estações televisivas dirão que a predominância de Marcelo se deve ao seu élan e ao seu potencial em termos de audiências. Pode até ser, mas a verdade é que isso leva a uma distorção completa, uma ameaça à democracia e à igualdade de oportunidades que esta pressupõe. Marcelo Rebelo de Sousa parte com uma vantagem mediática de dez anos, e mesmo assim ocupa muito mais tempo do que qualquer um dos outros candidatos. A desfaçatez com que ele ufanamente anuncia uma "campanha frugal" é apenas o toque final no ramalhete composto em sua honra. Ele sabe muito bem que não precisa de gastar muito, o foco das TV's irá sempre segui-lo, como as mariposas seguem a luz que as mata. 

Ah, por falar em "conversas em família", o célebre programa que Marcello Caetano decidiu criar para limpar a imagem de um fascismo de décadas. Marcello Caetano, o padrinho de Marcelo Rebelo de Sousa, uma afiliação que misteriosamente não é mencionada nos panegíricos que diariamente a imprensa lhe dedica. Será que a parte do eleitorado comunista que pretende votar em Marcelo está a par deste pormenor biográfico? Não terá interesse, imagina-se. Como certamente a capa que o Públicou dedicou hoje ao tio Marcelo é desinteressada, até porque nos próximos dias todos os outros candidatos presidenciais irão também ser capa do diário. Eu acredito. 

É portanto necessário que a esquerda acorde e deite mãos à obra para enfrentar Marcelo. Não ajuda a dispersão de candidatos; ajuda ainda menos o aríete segurista para minar o poder de António Costa, Maria de Belém. Mas ainda assim é preciso concentrar o fogo no essencial: a derrota de Marcelo. Para depois ninguém dizer que Marcelo saiu muito pior do que a encomenda.

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«As circunstâncias são o dilema sempre novo, ante o qual temos de nos decidir. Mas quem decide é o nosso carácter.»
- Ortega y Gasset

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