Saltar para: Post [1], Comentar [2], Pesquisa e Arquivos [3]

365 forte

Sem antídoto conhecido.

Sem antídoto conhecido.

03
Jan16

O candidato das novas "conversas em família"

Sérgio Lavos

10307424_10208440594277795_3094897143772686717_n.j

A esquerda portuguesa parece ter relaxado desde que chegou ao poder. Mas tanto "tempo novo" e tanta "recuperação de rendimento" não podem fazer perder de vista o próximo combate: as presidenciais. Há quem julgue que o candidato da direita, Marcelo Rebelo de Sousa, até irá facilitar a governação. Pura ilusão, daquele tipo em que apenas ingénuos ou políticos inexperientes podem cair. Estas presidenciais são tão ou mais importantes do que as duas eleições anteriores, as que deram a vitória a Cavaco e à sua magistratura de ingerência e de facção. 

Os ingénuos dizem, então: Marcelo não é nenhum Cavaco. Podemos acrescentar: pois não, será pior. Pior porque é muito mais imprevisível do que Cavaco. Pior porque ainda tem um ego mais inflado do que Cavaco. E pior porque sabe guardar humores para a melhor ocasião e servir vinganças geladas. A popularidade alimentada pela TV é o combustível certo para uma magistratura de interferência e de confusão.

O homem que há mais de dez anos está ligado ao tubo de alimentação da máquina que "tanto pode vender sabonetes como presidentes" é o que mais próximo temos de um Silvio Berlusconi. É certo que o seu domínio emana de qualidades telegénicas e não empresariais, mas a verdade é que Marcelo teve as suas "conversas em família" com Judite durante tanto tempo que já ninguém se lembra das suas aventuras enquanto candidato à câmara municipal de Lisboa ou do seu breve romance com o irrevogável Portas. Marcelo lidera destacado as sondagens porque aos olhos do povo ele não é político, é o tio Marcelo da televisão. 

E todos os media vão atrás, seguem a onda lançada pela TVI. O espaço mediático que Marcelo ocupa corresponderá certamente a mais de cinquenta por cento do tempo total dedicado aos candidatos. As estações televisivas dirão que a predominância de Marcelo se deve ao seu élan e ao seu potencial em termos de audiências. Pode até ser, mas a verdade é que isso leva a uma distorção completa, uma ameaça à democracia e à igualdade de oportunidades que esta pressupõe. Marcelo Rebelo de Sousa parte com uma vantagem mediática de dez anos, e mesmo assim ocupa muito mais tempo do que qualquer um dos outros candidatos. A desfaçatez com que ele ufanamente anuncia uma "campanha frugal" é apenas o toque final no ramalhete composto em sua honra. Ele sabe muito bem que não precisa de gastar muito, o foco das TV's irá sempre segui-lo, como as mariposas seguem a luz que as mata. 

Ah, por falar em "conversas em família", o célebre programa que Marcello Caetano decidiu criar para limpar a imagem de um fascismo de décadas. Marcello Caetano, o padrinho de Marcelo Rebelo de Sousa, uma afiliação que misteriosamente não é mencionada nos panegíricos que diariamente a imprensa lhe dedica. Será que a parte do eleitorado comunista que pretende votar em Marcelo está a par deste pormenor biográfico? Não terá interesse, imagina-se. Como certamente a capa que o Públicou dedicou hoje ao tio Marcelo é desinteressada, até porque nos próximos dias todos os outros candidatos presidenciais irão também ser capa do diário. Eu acredito. 

É portanto necessário que a esquerda acorde e deite mãos à obra para enfrentar Marcelo. Não ajuda a dispersão de candidatos; ajuda ainda menos o aríete segurista para minar o poder de António Costa, Maria de Belém. Mas ainda assim é preciso concentrar o fogo no essencial: a derrota de Marcelo. Para depois ninguém dizer que Marcelo saiu muito pior do que a encomenda.

2 comentários

  • Sem imagem de perfil

    04.01.2016

    "aporfilhar" ?
    Em que raio de escola é você frequenta ?

    A Internet é uma porra, porque admite toda a qualidade de analfabrutos...

    Não respondo mais a singularis asinus.
  • Comentar:

    Mais

    Se preenchido, o e-mail é usado apenas para notificação de respostas.

    Este blog tem comentários moderados.

    «As circunstâncias são o dilema sempre novo, ante o qual temos de nos decidir. Mas quem decide é o nosso carácter.»
    - Ortega y Gasset

    Subscrever por e-mail

    A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

    No twitter

    Arquivo

    1. 2024
    2. J
    3. F
    4. M
    5. A
    6. M
    7. J
    8. J
    9. A
    10. S
    11. O
    12. N
    13. D
    14. 2023
    15. J
    16. F
    17. M
    18. A
    19. M
    20. J
    21. J
    22. A
    23. S
    24. O
    25. N
    26. D
    27. 2022
    28. J
    29. F
    30. M
    31. A
    32. M
    33. J
    34. J
    35. A
    36. S
    37. O
    38. N
    39. D
    40. 2021
    41. J
    42. F
    43. M
    44. A
    45. M
    46. J
    47. J
    48. A
    49. S
    50. O
    51. N
    52. D
    53. 2020
    54. J
    55. F
    56. M
    57. A
    58. M
    59. J
    60. J
    61. A
    62. S
    63. O
    64. N
    65. D
    66. 2019
    67. J
    68. F
    69. M
    70. A
    71. M
    72. J
    73. J
    74. A
    75. S
    76. O
    77. N
    78. D
    79. 2018
    80. J
    81. F
    82. M
    83. A
    84. M
    85. J
    86. J
    87. A
    88. S
    89. O
    90. N
    91. D
    92. 2017
    93. J
    94. F
    95. M
    96. A
    97. M
    98. J
    99. J
    100. A
    101. S
    102. O
    103. N
    104. D
    105. 2016
    106. J
    107. F
    108. M
    109. A
    110. M
    111. J
    112. J
    113. A
    114. S
    115. O
    116. N
    117. D
    118. 2015
    119. J
    120. F
    121. M
    122. A
    123. M
    124. J
    125. J
    126. A
    127. S
    128. O
    129. N
    130. D
    131. 2014
    132. J
    133. F
    134. M
    135. A
    136. M
    137. J
    138. J
    139. A
    140. S
    141. O
    142. N
    143. D
    144. 2013
    145. J
    146. F
    147. M
    148. A
    149. M
    150. J
    151. J
    152. A
    153. S
    154. O
    155. N
    156. D
    157. 2012
    158. J
    159. F
    160. M
    161. A
    162. M
    163. J
    164. J
    165. A
    166. S
    167. O
    168. N
    169. D