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365 forte

Sem antídoto conhecido.

Sem antídoto conhecido.

25
Nov15

Até que enfim!

Pedro Figueiredo

Estava difícil. Finalmente há um governo que reflecte a escolha da maioria dos portugueses. A nova distribuição parlamentar determinada pelas eleições de 4 de Outubro finalmente viu expressa a sua vontade no órgão executivo competente. A coligação de direita, apesar de ter sido o bloco mais votado, perdeu a maioria que lhe permitiu (des)governar nos últimos quatro anos. Nem sequer se trata da questão do "vencedor" ter perdido e de ter vencido o "derrotado", imagem que também não é tão descabida como querem fazer crer. A democracia representativa determina o equilíbrio de forças político-partidárias e este parece estar bem claro na Assembleia da República.

O que a coligação PSD/CDS e os seus apoiantes (incluindo o PR) nunca esperariam era que houvesse um entendimento à esquerda. Mas houve. E é precisamente neste ponto que se devem centrar as atenções. Onde muitos procuram ver uma traição ao eleitorado (cada partido responderá a seu tempo pelas escolhas feitas, ainda que depois das eleições), há quem veja um acordo histórico. Onde muitos vêem submissão, ou simpatias, a "extremistas" e "radicais", há quem encontre diferenças relegadas para segundo plano, em nome de uma solução que não desrespeite a Constituição e, consequentemente, os cidadãos. O artigo 1.º diz com toda a clareza que "Portugal é uma República soberana, baseada na dignidade da pessoa humana e na vontade popular (...)". Sublinhe-se: dignidade da pessoa. Vontade popular.

O foco está no entendimento porque é precisamente por sua causa que o xadrez político se viu alterado para uma realidade até então nunca vista. Como escreveu Bernard Shaw, "You see things; and you say 'Why?' But I dream things that never were; and I say 'Why not?'" Quebraram-se tradições. Não por manobras de sobrevivência política e muito menos por falta de legitimidade democrática. Apenas pelo superior interesse de quem mais precisa de ser defendido. 

O PS não está menos dependente do PCP e do BE do que estava o PSD do CDS na última legislatura. São, aliás, interdependências naturais de quem governa com indispensável apoio parlamentar. Sempre revogável, que não se tenha ilusões. O XXI Governo, que daqui por horas tomará posse, poderá ser apenas constituído pelo PS, mas terá sempre o aval do resto da esquerda parlamentar. Jerónimo Sousa poderá dizer, e bem, que o primeiro objectivo do entendimento seria tirar a direita do governo. No entanto, não se esquecerá certamente que promover ou contribuir para a uma queda prematura, antes do final da legislatura, significará colocar de novo a direita no poder. Novamente com maioria. Como, de resto, já se vaticina. Independentemente das diferenças que possam ter, cabe-lhes provar exactamente o contrário. A consciência das fragilidades poderá ser a força que os manterá unidos no essencial. O sucesso nos próximos quatros anos depende de todos na esquerda. É uma oportunidade que ninguém poderá dar-se ao luxo de desperdiçar. Há muito a perder. Sobretudo o país.

"O grande desafio começa agora", afirmou, com razão, Catarina Martins. Há um longo caminho pela frente, sem messias ou salvadores em cena. Ainda assim, há uma garantia que antes claramente não havia: o respeito pela Constituição. Pelos portugueses.

5 comentários

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    O verdadeiro Atento 26.11.2015

    Divida portuguesa em 2011 : 107,2 % do PIB ( http://expresso.sapo.pt/economia/divida-publica-fechou-2011-em-1072-do-pib=f705802 )

    Divida portuguesa em 2015 : 128.7 % do PIB ( http://expresso.sapo.pt/economia/2015-10-23-Divida-publica-portuguesa-e-a-3-mais-elevada-da-Uniao-Europeia )

    PIB português em 2011 : 176 mil milhões
    PIB português em 2014 : 173 mil milhões (http://www.pordata.pt/Portugal/PIB+(base+2011)-130)


    Taxa de risco de pobreza após transferências sociais em 2011 : 25,4 %
    Taxa de risco de pobreza após transferências sociais em 2014 : 26,7 %
    (http://www.pordata.pt/DB/Europa/Ambiente+de+Consulta/Tabela )

    Taxa de risco de pobreza antes de qualquer transferência social em 2011 : 42,5 %
    Taxa de risco de pobreza antes de qualquer transferência social em 2014 : 47,8 %
    ( http://www.pordata.pt/DB/Europa/Ambiente+de+Consulta/Tabela )

    E ainda há quem tenha a SUPREMA lata de vir para aqui dizer que o governo anterior deixou o pais em melhor estado do que o encontrou...É preciso ter um talo de todo o tamanho bem enfiado pelo rabo acima . Ou uma lobotomia. É escolher a opção que mais agradar .
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    carlos 26.11.2015

    Sem lobotomias, esqueceu-se do pormenor , 2011 falência do estado Português.Pelos vistos no dia a seguir a PPC tomar posse como primeiro ministro a falência tinha desaparecido e não nos emprestaram 78 mil milhões de euros.Já para não falar que foi PPC e CS que chamaram a troika,logo isso da falência foi encenação da direita, porque tudo estava a correr de vento em pôpa.
    Também se "esqueceu" de publicar os dados da Pordata relativos à dívida pública, às despesas da segurança social em % PIB,saúde em % PIB,etc
    e já agora, http://www.pordata.pt/Portugal/%c3%8dndice+de+Bem+Estar+(R)-2578

    Lata , lobotomia ou o talo enfiado pelo rabo acima ?
  • Sem imagem de perfil

    O verdadeiro Atento 26.11.2015

    Se para si poupança e bom trabalho se resumem a cortar nos serviços estatais essenciais á população penso que não vale sequer a pena argumentar. Estamos num plano de humanidade completamente diferente.
    No dia em que tivermos a população inteira de Portugal a pão e água mas os cofres do estado cheiinhos estaremos bem para si.
    É uma forma de vêr as coisas. Uma forma de que qualquer ser humano decente teria vergonha.

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    Carlos 26.11.2015

    E quais foram os serviços essenciais que o estado deixou de prestar à população ?
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